Pedagogia Sistêmica

 A Pandemia e os Impactos na Comunidade Escolar 




A Pandemia pegou a todos de surpresa. Quando imaginaríamos viver tal realidade? A verdade é que quando essa demanda chegou a nossa porta, percebemos que não estávamos preparados para tamanho desafio. 
E a educação também não!  

Numa visão sistêmica geral, os pais tendem a transferir para escola, responsabilidades e carências que eles trazem do seu sistema familiar. Às vezes, um pai que chega à escola nervoso e xingando por causa do valor da mensalidade, em meio a pandemia, está querendo ser visto, está em busca de acolhimento, de se sentir especial. Ele está com medo, ele também não sabe como agir e deposita na escola, como uma criança ferida, as suas expectativas e inseguranças. Ele não sabe se vai continuar empregado e se o filho dele poderá continuar pertencendo aquele grupo tão importante para o seu status social. Ele não está diretamente brigando com a direção ou com os professores, ele está recorrendo aos pais dele, na figura da escola. 

Criou-se um entrave. Bastava a escola acolher esse pai. Tranquiliza-lo mesmo que a resposta fosse: “...no momento é só isso que podemos fazer, mas juntos vamos buscar alternativas. Estamos no mesmo barco e tudo isso é novo para nós também”.

Sou professora e permaneci lecionando por quase uma década. Durante esse período tive oportunidade de conviver com diversas faixas etárias estudantis. Inclusive lecionei para outros professores e posso dizer com segurança: o ambiente escolar é muito complexo. E já estava mais do que na hora de olharmos para a educação que oferecemos as nossas crianças e aos jovens com mais amor. 

Contudo, não é isso que temos visto. O desespero e o despreparo de algumas escolas na função de “empresas” fazem enviar aos pais uma diretriz que coloca crianças em frente ao computador 4 horas por dia para, entre outros objetivos bem intencionados porém questionáveis, “justificar” a mensalidade, cogitando a possibilidade de introduzir avaliações em pleno estado de insegurança que estamos submetidos, sem atentar-se à saúde do grupo (professores, alunos, famílias) o qual é formado. Isso tudo num contexto super privilegiado de uma escola particular. 

Uma pandemia configura-se uma tragédia silenciosa, mas traz consigo danos emocionais e psicológicos muito semelhantes aos de uma guerra, de um tsunami ou de um terremoto. Nesse caso, estamos todos preocupados somente em sair vivos de corpo e de alma e com o psicológico íntegro. Saudáveis emocionalmente para manter a esperança em dia e recomeçar quando for a hora. Logo, é humanamente difícil responder a demandas avaliativas nesse contexto.

Então, mamães e papais, sugiro que caminhem no ritmo e no tempo de vocês, da família de vocês! Agora é hora de aprender muito mais sobre resiliência do que sobre conteúdo; sobre amor, sobre fé, sobre enfrentar o desconhecido, o diferente. Ensina ao seu filho a dobrar as roupas, a lavar o copo, a cuidar do cachorro, a fazer as coisas do dia a dia que ele não está acostumado a fazer. Ensina a ele a ser um ser humano mais humano. Ensina-lhe a sobreviver.

Quando retornarem, esses alunos/professores serão pessoas totalmente diferentes, e dentre outros impactos, não aceitarão mais o conhecimento linear, obedecendo ordens, sentados ouvindo alguém “mandar”. Eles estarão interessados somente no essencial, no que for criativo, no que for produtivo, no que fizer sentido e realmente fizer diferença na vida de cada um. Escolas, esta é uma oportunidade de se renovar. Uma renovação que já ansiávamos há muito tempo e que já percebemos que não passa (só) pela tecnologia. Preparem-se para receber esses alunos e os seus pais (e os professores também) de volta ao ambiente escolar. Organizem-se para cuidar do psicológico e do emocional de cada criança/funcionário/família. 

Acredito que será o momento de revisões, de trabalhar o corpo, o movimento, a arte e a fé (ou reforçar se já estivessem sendo trabalhadas). Indico que ensinem sobre as novas economias (criativas, compartilhadas, colaborativa e multimoedas) e sobre interdependência. Promovam a solidariedade e auto-responsabilidade. Vamos ouvir o que eles tiverem para falar. Acolham-nos. Dialoguem sobre as emoções e os sentimentos. Deixem (pais e diretores), na medida do possível, os rigores do ano letivo (com as mudanças necessárias) para o ano que vem. Não queiram "ensinar" em alguns dias letivos o que foi planejado para 200. Que o bom senso venha em primeiro lugar.

Tudo que estamos vivendo vai ficar marcado para sempre na história de cada um, vamos fazer de tudo para que seja positivamente. 

É hora de “cuidar” das pessoas e não colaborar para uma tragédia ainda mais visível adoecendo o corpo escolar com exigências não compatíveis ao momento tão delicado. As escolas, (no corpo docente que as compõe) que estiverem prontas para esse "novo" modelo de educação inaugurarão uma nova forma de aprender e de ensinar,  alinhada ao bem-estar das pessoas. Preparando seres humanos fortes para enfrentarem as tempestades da vida, focados no "essencial" que o momento exige.

Escolas, diretores, professores, funcionários, alunos, pais e famílias... eu trago todos vocês no meu coração! Vai passar! Estamos juntos!

Por Ana Paula Araújo Carvalho
Professora, Historiadora, mãe de duas meninas 

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